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Manifestantes ou Vândalos? Como a Mídia Tradicional abordou os protestos em junho de 2013 no Brasil

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Em 2012, começou a circular na internet uma imagem comparando como a mídia brasileira abordava uma manifestação no Brasil e outra na França. Os exemplos usados na imagem eram de notícias veiculadas em 2009:

No meio de tantos protestos no Brasil em junho de 2013, surge a dúvida de como esse tema foi abordado nas capas de jornais tradicionais. Estariam os jornais chamando essas pessoas de manifestantes, ou de vândalos?

Antes de responder a essa questão, vale a pena rever o que aconteceu no país em junho. Contra o aumento de 20 centavos no transporte público, manifestações ocorreram no início do ano em diversas cidades do Brasil, porém com pouca visibilidade na grande mídia.

Em São Paulo, através de uma mobilização organizada pelo Movimento Passe Livre os protestos nos dias 06, 07, 11 e 13 de junho contaram com 2.000, 5.000, 10.000 e 10.000 manifestantes respectivamente. Imagens e vídeos dessa última passeata foram massivamente divulgados pela internet, mostrando excessiva violência policial contra jornalistas, manifestantes e quaisquer pessoas que estivessem sob a mira deles. Isso foi o estopim para o surgimento de manifestações em outras cidades e para o aumento do apoio dos cidadãos aos protestos. Ao todo foram mais de 600 protestos no Brasil, onde os manifestantes citaram mais de 20 razões para estar nas ruas, segundo pesquisa do IBOPE.

A partir da ênfase que a grande mídia nacional deu a esses acontecimentos foi feita uma pesquisa, que consistiu na leitura e mapeamento da primeira capa de 6 jornais tradicionais. 3 de circulação nacional – O Estadão, A Folha de São Paulo e O Globo, e 3 jornais menores com distribuição local – Jornal Estado de Minas, O Liberal e O Correio Braziliense. 4 categorias foram criadas para classificar o foco de cada uma das matérias:

  • a) Violência (vermelho)
  • b) Protesto (verde)
  • c) Copa das Confederações (azul)
  • d) Ações Políticas de maior interesse do cidadão (amarelo)

(para uma descrição mais detalhada dos critérios que definem cada uma das categorias, veja o final do texto)

A partir dessa classificação, um gráfico foi gerado mostrando o assunto enfatizado pelas capas (estavam falando das manifestações ou não) e o tom (estavam enfatizando a violência ou não). Copa das Confederações foi incluída como categoria, pois ocorreu entre os dias 15 e 30 de junho, justamente no período de grande mobilização brasileira.

O gráfico revela ao menos 5 pontos interessantes:

1) Até o dia 13 de junho, o relato dos protestos focava na violência (vermelho) e no embate entre manifestantes e polícia. Note que a partir do dia 14 (dia seguinte ao protesto onde jornalistas foram feridos e presos em São Paulo), a mídia abre espaço para uma cobertura mais ampla (englobando as razões que motivavam os protestos) e sem focar somente na violência.

2) No segundo dia após a grande marcha do dia 20 de junho, onde mais de 1milhão e 700 mil pessoas marcharam por todo Brasil, surge uma mudança relevante nas matérias de primeira capa. A partir do dia 22 os jornais focam na discussão de reformas políticas (amarelo), trazendo temas cobrados nos protestos.

3) A abordagem das matérias com foco no protesto (e não na violência) aumenta a partir do dia de maior tweets em 17 de agosto. Logo após esse pico, há um decrescimento nos tweets que coincide com o crescimento do foco na violência nas capas. As hashtags estão listadas nesse documento.

4) O dia de maior manifestantes na rua não é o de maior tweets.

5) Por fim, há duas observações que não são possíveis visualizar através do gráfico gerado.

Primeiro, os jornais divulgaram nas primeiras páginas pesquisas sobre hábitos e vícios de jovens e estudantes. No dia 24 de junho, em um protesto próximo ao complexo da Maré (Rio de Janeiro), um grupo não identificado realizou roubos na área da manifestação. A polícia realizou uma busca aos assaltantes, onde 1 sargento e 9 pessoas foram mortas dentro da comunidade (3 não tinham antecedentes criminais). No dia seguinte, nenhuma capa relatou o ocorrido. Apenas dois dias depois, apareceu uma foto com o corpo de um dos mortos na capa de O Estado de São Paulo. O Globo, que é a mídia do Rio de Janeiro, não mencionou essas mortes na primeira capa em nenhum dia do mês.

E segundo, um episódio relevante de violência policial após um protesto foi ignorado pelos jornais analisados.  Entre os dias 18 e 24 de junho nas capas dos jornais O Globo, Correio Braziliense, O Estado de São Paulo e o Estado de Minas, há chamadas para matérias informando que, entre estudantes e adolescentes:

  • houve crescimento no uso de drogas,
  • 76% já ingeriram álcool,
  • se trata de uma geração sem ocupação (sem emprego, estudo ou atividade),
  • há uma nova droga usada na balada.

Segundo o levantamento, as primeiras capas de meses anteriores nunca tinham dado destaque para tais pesquisas.

Esses são apenas alguns dos muitos pontos que podem ser analisados a partir do gráfico acima. A conclusão é que a mídia brasileira têm oscilado na ênfase que dá aos protestos, sem nunca deixar de guardar o devido espaço para falar do futebol.

P.S. Esse é apenas o primeiro texto de um projeto maior de análise de dados.

O próximo passo é comparar a abordagem da mídia tradicional com a mídia social.

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Critérios

Critérios utilizados para as categorías criadas:

a) Violência (vermelho):

  • imagens com carros ou ônibus ou objetos pegando fogo
  • imagens de policiais fazendo barreira, atirando ou jogando spray de pimenta
  • descrição da matéria com uso das palavras: vândalo, depredação, medo, quebra-quebra, quebradeira, violência, saque, criminoso
  • descrição da matéria com apoio à ação violenta da polícia
  • matéria abordando o medo de participação aos protestos

b) Protesto (verde):

  • foto da passeata
  • explicação sobre a motivação do protesto

c) Copa das Confederações (azul):

  • fotos ou texto sobre os jogos da Copa das Cofederações

d) Ações Políticas (amarelo):

  • Transporte público
  • Fim do Voto Secreto
  • Reforma Política
  • PEC 37
  • Saída do Renan Calheiros
  • Gasto na Copa
  • Corrupção como crime hediondo
  • Fim do Foro privilegiado
  • PEC 33
  • Médicos Cubanos no Brasil
  • Falta de Credibilidade de partidos políticos
  • Educação
  • Gasto público

Data

Tweets:
Topsy Analytics

Protesters:
G1 Globo Comunicação e Participações S.A.
and Wikipedia – https://pt.wikipedia.org/wiki/Cidades_participantes_dos_protestos_no_Brasil_em_2013

Front Pages:
PageOneX. Live version at http://pageonex.com/DeboraLeal/spring-in-brazil/

Dataviz: Pablo Rey Mazón.
Helped with the text: Carolina Brum, Fernanda Cimini, Julia Mussio, Mariana Prado, RoseMarie Mallon and Ruy de Deus.

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Protesters or Vandals? How the traditional media approached Brazilian protests in June 2013

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In 2012, there was an article on the internet comparing how the media approached the demonstrations in Brazil to those in France. The image shows:

  • “Protesters set fire to more than 300 cars in France”
  • “Vandals set fire to a train in Rio”

How is this topic addressed on the front page of traditional newspapers, in the midst of so many protests in Brazil during June? Were the newspapers calling these people protesters or vandals?

Before answering this question, it is worth reviewing what happened in Brazil that month. The 20 cent hike in the Real (less than $0.10) for the transportation fare triggered demonstrations in the main cities in Brazil. Little coverage was observed in the mainstream media. In São Paulo, demonstrations were mobilized by the Movimento Passe Livre on June 6th, 7th, 11th and 13th, with 2,000, 5,000, 10,000 and 10,000 protesters, respectively. Images and videos of the demonstrations were massively disseminated over the Internet, showing excessive police brutality against journalists, demonstrators and anyone under police target. This flood of videos and images was the catalyst for the demonstrations in other cities, and increased public support for the protests. At the end of the month there were over 600 protests. Protesters have cited more than 20 reasons to be on the streets, according to research by Brazilian statistic research institute called IBOPE. Some of these reasons were used to classified the category of the research below.

The research consisted of reading and mapping the front pages of 6 traditional newspapers;
Three newspapers with national circulation:

  1. O Estadão, São Paulo
  2. A Folha de São Paulo, São Paulo
  3. O Globo, Rio de Janeiro

Three newspapers with local distribution:

  1. Jornal Estado de Minas, Minas Gerais
  2. O Liberal, Para
  3. O Correio Braziliense, Brasilia (the capital of Brazil)

Four categories were created in order to classify the focus of each article:

  •      Violence (red)
  •      Protest (green)
  •      Confederation Cup – soccer tournament that acts as a rehearsal for the World Cup (blue)
  •      Political issues raised by the protesters (yellow)

(For a detailed description of each category, see end of text)

Based on this classification, a chart was generated showing the emphasis of the front pages (whether they were referring to the demonstrations or not) and tone (emphasizing violence or not).

The Confederations Cup was included as a category because it was happening at the same time (June 15th – 30th). The coverage referred to the tweets of the protesters on the streets the day before.

The graph reveals at least 5 interesting points:
1) Up to June 13th, the major focus of the coverage was violence (red) and the clash between protesters and police. On the 13th, several journalists were injured and arrested in São Paulo. The day after, the media seemed to make room for wider coverage (covering the reasons that motivated the protests), without focusing only on violence.

2) After the big march on June 20th, the protests dominated the newspapers’ front pages. The focus on violence was much more prevalent than the focus on the protest itself (green). By June 22nd, a significant change takes place giving us a discussion about policy reforms (yellow) rather than the protests. The president of Brazil, Dilma Rousseff, proposed a wide range of actions to begin reforming Brazil’s political system.

3) The front page focus on the protests grows in direct correlation to the citizens participation on Twitter for August 17th (hashtags used in this graph are here). After these 2 days, the tweets decrease and the focus on violence in the coverage increased.

4) The day with more protesters on the streets was not the day with more tweets about it.

5) Finally, there are two observations that are not covered in the graphic. First, the newspapers began to report about habits and vices of youth and students. Second, a relevant episode of police violence occurring after a protest was ignored by the newspapers.

Between June 18th and 24th, on the front pages of 4 newspapers, there were articles about students and teens pertaining to:

  • increase in drug use,
  • 76% had drunk alcohol,
  • a lazy generation: no jobs or studies,
  • new drug in dance club.

Analysis on previous newspapers’ covers show that there was no focus on teenagers lifestyle previous to the protests.

On June 24th, there was a protest close to a poor community in Rio de Janeiro where an unidentified group robbed protesters and people around the area of the demonstration. The police then began to look for the assailants, and by the end of the “hunt”, 1 Sergeant and 9 people were killed. All of the people killed were residents in this poor community and three had no criminal record. The next day, this story did not make any of the front pages! Just two days later, a photo related to the deaths appeared on the cover of O Estado de São Paulo. O Globo, which is the media of Rio de Janeiro, did not mention the deaths in the front page at all.

These are just some of the many points that can be analyzed from the graph above. The conclusion is that the Brazilian media have changed their emphasis on the protests, always keeping considerable space for soccer coverage.

Note: This is only the first article of a larger project of data analysis. My next step is to compare the approaches of traditional media versus the social media.

Criteria

Criteria used for the categories created:
a) Violence (red):

  • Images with cars buses or objects on fire
  • Pictures of police barrier, police shooting or pepper spraying
  • Description of the article headline using the words: vandal, vandalism, fear, smashing, crash, violence, looting, criminal
  • Description of the article headline supporting violent police action
  • Text about the fear of participating in the protests

b) Protest (green):

  • Photo of the marches
  • Explanation of the motivation of the protest
  • Opinion about the protest without mention the words: vandal, vandalism, fear, smashing, crash, violence, looting, criminal

c) Confederations Cup (Blue):

  • Photos or text on the Confederation Cup

d) Political Issues (yellow):

  • Public transportation
  • End the Secret Vote
  • Political Reform
  • PEC 37
  • Output Renan
  • Spent in World Cup
  • Corruption as a crime
  • End of privileged forum for politics
  • PEC 33
  • Cuban Doctors in Brazil
  • Lack of credibility of political parties
  • Education
  • Public Spending

Data

Tweets:
Topsy Analytics

Protesters:
G1 Globo Comunicação e Participações S.A.
and Wikipedia – https://pt.wikipedia.org/wiki/Cidades_participantes_dos_protestos_no_Brasil_em_2013

Front Pages:
PageOneX. Live version at http://pageonex.com/DeboraLeal/spring-in-brazil/

Dataviz: Pablo Rey Mazón.
Helped with the text: Carolina Brum, Fernanda Cimini, Julia Mussio, Mariana Prado, RoseMarie Mallon and Ruy de Deus.